Quais são os principais exames necessários para a boa saúde dos reprodutores e suas ninhadas?

Bem vindos novamente a mais um artigo sobre reprodução em cães! Hoje conversaremos sobre algumas enfermidades de origem infecciosa que precisamos ter o conhecimento para que possamos trabalhar com animais sadios e assim aumentar e/ou prevenir a queda dos índices reprodutivos do plantel.

Existem muitas enfermidades que causam problemas reprodutivos em cães. Porém, neste texto serão comentadas as mais atualmente importantes no Brasil e, caso os senhores almejem por informações adicionais, poderemos apresentar outras doenças nos artigos subsequentes.

A importância destas enfermidades se dá porque existem algumas doenças que levam à baixa taxa de concepção, algumas outras causam perdas embrionárias, ainda podemos nos deparar com animais que sofrem os abortamentos e a presença de filhotes natimortos ou neonatos subdesenvolvidos.

Estes fatores são preocupantes para os criadores, pois algumas vezes, pode-se perder não só a matriz como também ninhadas inteiras, muitas vezes sem "causa definida".

Este texto teve como objetivo expor um breve relato sobre algumas doenças e os possíveis exames para o diagnóstico. Pedirei a compreensão dos senhores, visto que este artigo é extenso, porém necessário para que possamos transmitir informações importantes.

E então, vamos lá!

Doenças infecciosas que afetam a reprodução em cães

 

1- Leptospirose

Temos aqui uma doença de origem bacteriana, que apresenta distribuição mundial e ainda causam riscos para a saúde humana.

Os cuidados para evitar a transmissão desta enfermidade para os cães são de extrema importância. Água contaminada com urina, esgoto e esterco são considerados vias de transmissão. Além disso, pode ser transmitida por meio da ingestão de material contaminado com a bactéria, penetração do agente pela pele, via placenta ou ainda por contato venéreo.

Os sinais clínicos da leptospirose em cães são variados, podendo apresentar problemas de fígado, problemas renais, vasculares e gastrointestinais. Ainda podem apresentar infertilidades (baixas ou ausência de taxas de concepção), abortos, morte de neonatos ou morte de recém-nascidos com poucas semanas de vida. Em alguns casos, a bactéria não levará a expressão de sintomatologias clínicas aparentes, sendo assim, o animal é considerado um portador inaparente, porém capaz de transmitir a bactéria.

Para este doença, a vacinação dos seus animais é a melhor maneira de prevenção.

Os exames utilizados na rotina laboratorial para a detecção desta enfermidade podem ser: os sorológicos, biomoleculares (como o PCR) e os testes bacteriológicos.

2- Brucelose canina

A brucelose canina é uma doença infectocontagiosa causada por bactérias e, semelhante à leptospirose, pode ser transmitida do animal para o homem.

A transmissão desta bactéria se dá via animal doente para animal sadio através do contato direto, pela via venérea (monta natural ou inseminação artificial) e também via congênita (mãe para feto). Os animais infectados constituem fontes de infecção, eliminam o agente no ambiente pela urina, por ejaculados, por secreções vaginais ou fetos abortados.

O predomínio das sintomatologias é de caráter reprodutivo e são comuns os abortamentos, perdas embrionárias, morte de filhotes fracos logo após o nascimento, natimortos, machos com degeneração e/ou atrofia testicular e pode chegar à esterilidade. Vale a pena mencionar que existem animais que não apresentam sintomatologias aparentes.

Além disso, não temos vacina para cães. Portanto, os exames para o diagnostico são importantes, antes que o animal entre no plantel e que possa ser considerado um reprodutor.

Estes exames podem ser os sorológicos ou então o PCR que trata de um exame que detecta se o animal é portador, mesmo sem a sintomatologia aparente.

3- Herpes virose canina

Estamos falando agora de um vírus. O nome dele é: Herpes vírus Canino tipo 1 (CaHV-1).

Este vírus tem relação com mortes de filhotes até as quatro semanas de vida. Nestes casos, o mais comum é a transmissão do vírus pelo canal do parto da mãe para o feto. Sendo que em filhotes com idade entre uma e duas semanas de vida, a doença é fatal.

Porém, nos cães adultos, o CaHV1 pode causar apenas infecções leves no trato respiratório ou genital, que muitas vezes não são notadas e, em alguns casos, estes animais apresentam problemas oftálmicos.

Além da transmissão via canal do parto, o herpes vírus canino também pode ser transmitido por contato direto de um cão sadio com secreções genitais ou oronasais de animais infectados ou ainda pela via transplacentária (de mãe para feto).

A importância deste vírus é crucial na atividade reprodutiva, pois problemas reprodutivos tais como baixa taxa de concepção, suspeitas de reabsorção fetal, fetos mumificados, abortamentos e diminuição no tamanho da ninhada podem estar associadas a ele, mesmo sem outros sinais aparentes.

Importante: um cão, uma vez infectado com CaHV-1, provavelmente será portador do vírus ao longo da vida e uma fonte em potencial de transmissão. Isto é, embora existam relatos que uma vez infectado, o cão pode desenvolver anticorpos contra o vírus, estes animais que apresentam o vírus serão portadores pro resto da vida e representam uma fonte de infecção para animais susceptíveis, o que torna a situação preocupante em cães reprodutores. Em outras palavras: não temos tratamento para eliminar o vírus no organismo animal!

E um fator agravante: não temos vacina (no Brasil) para este enfermidade.

Portanto, o exame dos animais é a melhor maneira para que haja o correto diagnóstico e a prevenção desta doença!

Já pensou se este vírus alcança seu plantel? Morte de ninhadas inteiras e animais infectados e transmissores por toda a vida? Infelizmente já temos casos da presença destes vírus aqui o Brasil.

Os exames de sorologia para detecção de anticorpos contra o vírus podem ser utilizados, mas o exame de PCR nos traria uma maior certeza se o animal está realmente infectado, mesmo que os animais não apresentem sinais aparentes.

4- Erliquiose

Bem, falaremos agora de outra enfermidade bacteriana cujos agentes vetores são os carrapatos (Rhipicephalus sanguineus – "carrapato marrom dos cães" – o principal transmissor desta enfermidade).

Além da erliquiose (Ehrlichia canis), existem outras doenças que são ocasionadas via carrapatos (vetores), dentre elas destacam a babesiose e a anaplasmose. Porém, neste breve texto, falaremos da erliquiose por ser a mais comum das três enfermidades.

Depois que a Erlichia entra no corpo do animal através da mordida do carrapato, ela afetará as células na corrente sanguínea. As células brancas (preciosas na luta contra infecções), células vermelhas (necessárias para o transporte de oxigênio no corpo) e as plaquetas (necessárias para ajudar a formar coágulos sanguíneos) podem ser afetadas.

Desta maneira, esta doença causa sintomatologias em diversos órgãos, como o sistema vascular, sistema hepático, problemas no baço, olhos, sistema nervoso, sendo que, as deficiências nestes sistemas ocasionarão problemas reprodutivos, podendo haver episódios de sangramento estral prolongado, incapacidade de concepção, abortos e mortes neonatais.

A prevenção desta enfermidade se dá pela tentativa de eliminação dos carrapatos, visto que não apresenta vacinas. Além disso, a infecção da Erlichia não dá ao seu cão uma imunidade protetora, ou seja, se o seu cão já foi infectado uma vez, e acontecer dele ser mordido novamente por um carrapato infectado, ele poderá desenvolver novamente a doença.

São vários os possíveis exames diagnósticos, dentre eles destacam os sorológicos, o PCR e também pode ser realizado o bacteriológico.

Terminamos hoje por aqui, e estamos à disposição para mais informações.

Sabemos que o manejo reprodutivo e sanitário dos canis não é uma tarefa fácil, e é de grande importância ter a noção sobre estas enfermidades a fim de controlarmos tais doenças, aumentando assim as chances de produtividade e pensando sempre no bem estar de nossos queridos animais!

Lembrando que, caso os senhores tenham atentado para alguns destes relatos presentes neste texto, contatem um medico veterinário que poderá lhe auxiliar sobre os exames atuais e também sobre os procedimentos necessários para os tratamentos (quando tiver) e possível erradicação destes problemas.

Grande abraço e até nosso próximo encontro!
Profa. Dra. Marilu Gioso.

 

Bibliografia:

Denise Claudia Tavares. TRANSTORNOS REPRODUTIVOS CAUSADOS POR AGENTES INFECCIOSOS EM ANIMAIS DE CANIS COMERCIAIS DA MICROREGIÃO DE RIBEIRÃO PRETO, ESTADO DE SÃO PAULO. Tese Doutorado,Unesp,campusJaboticabal.2015.Disponívelem: https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/126377/000836708.pdf?sequence=1. Acesso em: 03 de abril de 2017.

Samantha Kelly. DOENÇA DO CARRAPATO – ERLIQUIOSE CANINA. Disponível em: http://portaldodog.com.br/cachorros/saude/doenca-do-carrapato-erliquiose-canina/. Acesso em: 03 de abril de 2017.

Érica Mateus Toledo Accetta. EHRLICHIA CANIS E ANAPLASMA PLATYS EM CÃES (CANIS FAMILIARIS, LINNAEUS, 1758) TROMBOCITOPÊNICOS DA REGIÃO DOS LAGOS DO RIO DE JANEIRO. UFRJ. DISSERTAÇÃO. Disponível em: http://www.ufrrj.br/posgrad/cpmv/teses/acetta.pdf. Acesso em: 03 de abril de 2017.


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